quarta-feira, 7 de abril de 2010

Um dos discos mais sinceros, simples e conscientes que eu já ouvi

* Didi Fadul

Quando vejo uma banda que já tem alguns discos e alguns anos nas costas lançar um CD homônimo, fico logo desconfiado que este será, ou pelo menos foi investido pra isso, o trabalho que mudará a vida da banda. Como já perdi as contas de quantos releases saíram em blogs, sites, jornais e revistas sobre este disco do quarteto gaúcho mais adorado do Brasil, e a turnê deles se agiganta a ponto de passear por quase todo o norte, infelizmente não pelo Pará, devo estar certo.

Grandiosamente, como sempre, os Guidis falam ao coração com uma sinceridade que não dá pra ignorar. É quase como compartilhar seus problemas, anseios, amores, saudades e pequenas alegrias com grandes amigos de longa data, daqueles que sabem tudo sobre você.

Abrindo o disco com a bela "Roger Waters", quase um prólogo, os gaúchos de Guaíba dão a falsa impressão de que faltarão guitarras. Que nada! Em seguida, o hit que abriu 2010 mostrando como se deve iniciar uma nova década: "Não fosse o bom humor" jogou o Superguidis no trendtopics no Twitter fácil por alguns dias, transbordando uma melodia, colada nas guitarras altas, bem altas, não se deixando duvidar que o bom rock existe. E mesmo sem entender o que se canta a gente quer balbuciar qualquer coisa pra fazer parte dessa coisa tão legal que é essa faixa. "Traduzo" pra vocês o refrão: não fosse o bom humor, meu estômago todo ia fritar. Segue o clipe:

Em rodas de conversa sobre este disco aqui em Belém é normal se ouvir que qualquer uma poderia ter sido escolhida a música de trabalho pra este CD e cada um acaba pegando pra si uma como preferida. Essa segunda adolescência pelo que passamos, talvez sem o direito de passar, ainda não sei bem, nos faz vibrar todos na mesma freqüência. É meio esquisito saber que caras lá do outro lado do país sentem o mesmo que a gente e vê-los usar termos como "quero mais é que se exploda" de um modo tão poético é fascinante.

Uma das faixas que me chamam mais atenção, nessa altura em que se beira os 30, é "Aos meus amigos", numa delicadeza sem medidas quando trata sobre coisas ruins pelas quais se passa, mas faz uso da simplicidade típica das letras dos Guidis pra dizer-se "melhor assim, que eu não estou só". Poesia pura, nas microfonias, noises, slides, delays, fuzzes, linhas de baixo certeiras, guitarras com single coil que fogem da caretice do que a gente vê normalmente por aí.

Ouvir Superguidis é de apertar o coração. Um dos discos mais sinceros, simples e conscientes que eu já ouvi.

* Didi Fadul, do blog "Pergunte pro Didi".

Nenhum comentário:

Postar um comentário