segunda-feira, 12 de abril de 2010

Em terceiro álbum, quarteto gaúcho se mostra engajado por mudanças sonoras

Até pouco tempo a expressão “rock gaúcho” era sinônimo de letras engraçadinhas, sonoridade voltada aos anos 60/70, flertes com a jovem guarda, música brega e visual retrô. Era a chamada “ditadura do terninho”.

Dentro desse panorama, a estreia do Superguidis (homônima) em 2006 foi recebida como um sopro mais que esperado de renovação. Ainda que as letras contivessem lá seus gracejos, elas eram mais reflexo de jovens músicos adolescentes procurando um modo conveniente e original de se expressar do que o revolvimento de idiossincrasias regionais. Mas o que fisgou muita gente foi a sonoridade calcada nas guitar bands dos anos 90 feita de maneira que não soasse mera cópia.

Essa estreia foi considerada um dos melhores CDs daquele ano. A expectativa para o seu sucessor passou a ser grande, naturalmente. A Amarga Sinfonia do Superstar (2007), com guitarras estridentes em primeiro plano, serviu mais para dividir opiniões do que para um ritual de passagem. Um lado da crítica o recebeu como uma evolução natural dos gaúchos, enquanto o outro, talvez saudoso das letras “graciosas”, preferiu lançar mão do argumento de que eles “cresceram rápido demais” – no meio do tiroteio sobrou até para o produtor do disco, Philippe Seabra.

Imaginem então a cara de satisfação dessa turma quando ouvirem “Roger Waters”, a bela faixa de abertura do terceiro álbum. Com Andrio Maquenzi cantando da maneira mais melódica possível, a música é a seriedade em si: tem dedilhado de violão, piano e arranjos de corda. Mas o que foge à compreensão dessa parte da crítica é que, dos adolescentes engraçadinhos do primeiro disco para os jovens na casa dos 25 anos deste recém-lançado CD, um turbilhão de mudanças passou pela vida da banda, tanto no campo artístico como no pessoal.

E eles não tiveram vergonha alguma de transpor essas evoluções e o amadurecimento de algumas ideias para suas músicas, como fizeram no segundo disco e repetem agora. A própria “Roger Waters”, completamente dissociada da sonoridade característica deles, é a que melhor simboliza essa vontade de mostrar ao mundo de que podem sempre evoluir.

“Não Fosse o Bom Humor” vem em seguida, com os riffs poderosos soando alto e com Andrio gritando novamente a plenos pulmões, levando a crer que o Superguidis “das antigas” está de volta. Já “Visão Além do Alcance” dá uma rasteira nesse raciocínio. Nela, também com um maravilhoso arranjo de cordas, o trabalho da cozinha rítmica formada por Diogo Macueidi (baixo) e Marco Pecker (bateria), antes escondida na espessa parede de guitarras formada pela dupla de guitarristas compositores Andrio e Lucas Pocamacha, finalmente se sobressai. O mesmo acontece em “As Camisetas”, que traz um bem cuidado refrão. É preciso louvar o trabalho feito pelo produtor Philippe Seabra nesse processo de realçar os instrumentos.

Na letra de “Quando Se É Vidraça”, a banda mostra não ter ficado alheia aos comentários negativos da época do segundo disco e deixa um recado aos detratores de outrora. “De Mudança”, com sua letra relatando a emocionante despedida de um casal, tem várias mudanças climáticas: inicia calma, com a guitarra acompanhando a linha vocal, e na hora do último aceno acontece a explosão instrumental.

O encerramento com “Aos Meus Amigos”, de percussão bem trabalhada, guitarra hipnótica, refrão etéreo e linhas apocalípticas de cordas finalizando a música, é outra que também serve de exemplo certeiro da maturação das ideias. O “disco dos triângulos”, como já vem sendo chamado, é a coroação de uma banda que nunca se acovardou em procurar alternativas ousadas para suas músicas, mesmo que essa busca cause estranhamento em seus seguidores.

Leonardo Dias Pereira/Rolling Stone.

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