terça-feira, 30 de março de 2010

Uma sinfonia ainda mais AMARGA

Uma porra de um soco na boca do estômago. Sempre quis usar essa expressão, mas ela nunca me pareceu sincera o suficiente até escutar o terceiro disco do Guidis. Ou melhor, dos SUPERguidis. Afinal, se a marca de calçados é hoje parte da representatividade da juventude das décadas 1960 e 1970, os guaibenses merecem, certamente, um título especial entre os recém-adultos do início do século XXI.

O reconhecimento da banda na cena alternativa pelos dois primeiros trabalhos, já demonstrava a paudurescência dos caras (paudurescência. Sempre quis ELOGIAR algo desta forma. E podem me chamar de guei). Mas o terceiro trabalho, homônimo ao grupo, mostra que eles vieram para marcar lugar no rock nacional.

E não há como discordar de TODAS as resenhas escritas até agora. O Superguidis, de 2010, mostra amadurecimento. E, principalmente, nos faz entender que crescer dói. Pra todo mundo. E que o mundo das responsabilidades não espera até nos sentirmos prontos.

Assim, o álbum dos triângulos abre com Andrio Maquenzi explicando que "quando se quer esquecer o que o Roger Waters disse em setenta e três" é preciso ter em mente que não há volta. Que o que passou deve ser deixado para trás. Mas este é só o primeiro baque para aqueles que esperavam a energia teenager de A Amarga Sinfonia do Superstar ou do disco de estreia, de 2006. No lugar da guitarreira grunge-powerpop-indie, a abertura vem no tom melodramático de alguém que viu que tudo o que acreditou na adolescência já não serve para mais nada. Um conjunto de cordas – falso – completa o clima, fazendo nos sentirmos passageiros de um navio naufragando, onde não há nada para se fazer a não ser esperar que o fim seja breve e sereno.

Mas a abertura é um grande engodo para a volta do 'bom e velho' estilo superguidiano. "Não Fosse o Bom Humor" tem título auto explicativo. "Visão Além do Alcance" é, talvez, a letra mais legal do disco, mesmo sendo completamente nonsense. O verso "com tanto artifício assim é difícil ser você mesmo" parece sintetizar em uma frase como é chegar perto dos 30 - e estar recém saindo da adolescência - em anos em que tudo parece superficial e falso.

"As Camisetas" e "Fã-Clube Adolescente" trazem a comprovação que, mesmo quando a gente cresce, não é possível se livrar da adolescência de uma vez só. “Camisetas”, inclusive, é para ser cantada na fossa, afinal, todo mundo se pergunta "por que será que sempre chove quando alguém te abandona?", não?

"De mudança" é, sem dúvida, a melhor faixa, no conjunto instrumental+letra. Traz o medo, as dúvidas e todas as expectativas de um casal que resolveu tentar a vida juntos. Das 11 faixas, merecem destaque, ainda,”Quando se é Vidraça”, que - explicando para aqueles que nunca aprenderam a fazer interpretação de texto nas aulas de português - tenta comprovar a tese de que ser pedra é fácil, o complicado é ser vidraça; "Nova completa", praticamente uma homenagem a todos aqueles cansaram de perder as coisas que mais prezava na vida; e "Aos Meus Amigos", trazendo o alento de que por mais furada que esteja nossa canoa, não estamos sozinhos.

No mais, Superguidis traz um peso nos instrumentos incomuns, até então, para o som da banda e uma obscuridade - muito culpa do tal falso conjunto de cordas - que, no futuro, poderá a torná-lo conhecido como um ÁLBUM CONCEITUAL.

Mas quem se importa com essas bobagens quando se está vivendo o turbilhão de dúvidas que as pessoas insistem em chamar de MATURIDADE? Alguém?

* Fagner Marques/O Dilúvio

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