quarta-feira, 24 de março de 2010

Harmonia na corrente elétrica

O rock de guitarras altas e melódicas jamais precisará respirar por aparelhos enquanto houver bandas como o Superguidis. Mesmo que elas apostem num lado mais harmonioso, como o faz agora (em partes) o quarteto de Guaíba (RS), persistirá a realidade de que o rol de canções intensamente ruidosas não caminha pra morte lenta e gradual.

Passando ao largo disso, o grupo gaúcho aproxima-se, inclusive, de idiomas, digamos, radiofônicos em seu recém-lançado terceiro disco, que leva apenas o nome do grupo e o carimbo da parceria Monstro Discos/Senhor F.

Faixas como “Usual” e “Nova Completa” têm cacife pra romper a surdez das estações com sua sinceridade na ponta dos instrumentos, menos letais e mais acessíveis, além de falarem ao coração de qualquer ser pensante, e não apenas aos adolescentes. Pois quem ficaria imune a versos como “por que será que sempre chove toda vez que alguém te abandona?”, de “As Camisetas”, faixa condutora de grandes referências indie dos anos 90 da banda, especialmente o cultuado Guided by Voices.

Por vezes, Superguidis realmente deixa transbordar um espírito juvenil, como em “Fã-clube Adolescente” e “Visão Além do Alcance”, mas é um impressão limitada pra uma banda que apenas diz as coisas de forma clara e direta. Além disso, não há como ignorar a maturidade instrumental exibida em “Roger Waters”, com sua leveza acústica, e o transe induzido por “Aos Meus Amigos”.

E para os que querem apenas ter os tímpanos estourados, os rapazes reservam “Não Fosse o Bom Humor” e “De Mudança”. Nesta, o vocalista Andrio decreta, afinal: “Eu não saio desse lugar”. Bom saber.

* Rubens Herbst (Orelhada)

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